Ásia

setembro/outubro/2025


ÍNDIA é a "nova China"?

Mulher casada,
identificada pelo
 anel no nariz.
    O emergir da Índia, a "nova China", como aspirante ao protagonismo de um novo ciclo de liderança econômica global, apostando no "dividendo demográfico" supera a população chinesa, ao alcançar 1.440 milhões de habitantes em 2023.

    Esta população que continua crescendo (0,9% ao ano), com uma estrutura jovem com expectativa de aumentar sua esperança de vida, tem perfil favorável ao crescimento econômico, tendo como principal motor ao desenvolvimento a demanda interna em consumo e em investimento.

    Seu potencial é indiscutível. Com o PIB crescendo a taxas anuais de 7%, superou o Reino Unido, sua antiga metrópole, apesar de seu PIB per capital de 2.500 dólares anuais ser pequeno.

    O elevado ritmo de crescimento deve-se ao setor serviços, que, em 2023, era responsável por 50% do PIB. O mercado de trabalho, entretanto, é um ponto frágil com quase 50% da força laboral empregada em setores de baixa produtividade como a agricultura, construção e comércio, com uma taxa de informalidade de 90% no conjunto do país, especialmente na áreas rurais.  A taxa de participação laboral fica comprometida pela pouca incorporação de mulheres (56,4%), que nas zonas urbanas não excede aos 30%.

    Mesmo assim, a Índia teve um crescimento notável, superando a China (mesmo considerando que estejam em fases distintas de desenvolvimento) e o conjunto de economias de médios ingressos, estando em torno de 6% anuais, a partir de 2000 e 5,8% na década anterior.

    Estas observações da economia indiana se percebem em 3 dimensões essenciais de desenvolvimento:

1) mudanças na estrutura econômica: na economia o peso da agricultura é de 17%, enquanto as manufaturas estão em 15% e alimentos e combustíveis têm um peso elevado nos intercâmbios comerciais com o exterior;

2) demografia: é o percentual de população em situação de pobreza e vivendo em áreas rurais, a despeito do rápido progresso na última década na redução da pobreza no país; e,

3)condições educativas e sanitárias: a taxa de alfabetização permanece baixa e a cobertura e infraestrutura estão limitadas no sistema sanitário.

    Contudo, houve avanços na estabilidade macrofinanceira: desde 2013, a inflação tem estado entre 2% e 6%, e a dívida externa está contida, e os juros vão se reduzindo, Por outro lado, o déficit persiste. Se exporta serviços profissionais, e tecnológicos e eletrônicos de consumo com alto valor agregado, mas isso não compensa as importações variadas de bens e manufaturas intensivas em mão de obra. O tamanho relativamente pequeno de setor manufatureiro deve-se aos elevados obstáculos que o país impõe ao investimento estrangeiro direto e a diversas importações de bens intermediários, onde iniciativas governamentais como o "Made in Índia" ou o "Production-Linked Incentive" ajudarão na integração da indústria às cadeias de valor globais e na capacidade competitiva, especialmente no contexto de reconfiguração do comércio internacional, onde a friendshoring pode ser vital.

    A transformação sofrida pela Índia na tecnologia da informação a converteu num dos protagonistas globais na exportação de serviços tecnológicos. Isto tornou-se possível através do desenvolvimento de infraestrutura cada vez mais moderna por empresas como a Tata Consultancy Services, Wipro e Tech Mahindra.

    As cidades de Bangalore e Hyderabad são os grandes motores do desenvolvimento tecnológico na Índia.  Bangalore, a "Silicon Valley" da Índia tem albergado tanto startups como gigantes multinacionais do setor. Infraestrutura moderna e grande quantidade de talento oportunizaram nela o crescimento da indústria. Hyderabad, a "Cyberabad" é uma alternativa poderosa, com forte investimento, tornou-se pólo de atração para empresas de serviços digitais e inovação.

    Com o impulso dessas cidades criou-se um entorno altamente competitivo de fortalecimento do setor tecnológico indiano, que se reflete nos resultados financeiros de suas principais companhias: HCLTech, Tata Consultancy Services (TCS), Infosys, Wipro e Tech Mahindra.

    O âmbito das tecnologias da informação (TI) na Índia é um dos eixos essenciais no desenvolvimento do país, como um pilar importante de emprego para milhões de indivíduos, influenciando de maneira notável na elevação do nível de vida, movilidade social e criação de oportunidades para diversas áreas no país, enquanto Índia se consolida com potencial global na exportação de serviços tecnológicos graças à combinação de talento humano altamente qualificado, infraestrutura digital moderna e cultura empresarial ágil. 

    Em 2022, exportou serviços de TI e processos de negócio em 193.000 milhões de dólares, sendo o quarto maior exportador de serviços digitais em 2023, superando China e Alemanha, com destino a EEUU, Canadá e Europa, resultando em 80% dos ingressos do setor tecnológico indiano essas exportações, mostrando forte orientação global, sendo líderes em automatização avançada e inteligência artificial generativa. 


Referências bibliográficas:

caixabankresearch.com

casaasia.es

mckinsey.com




julho/agosto/2025


MONGÓLIA, uma nação dependente

Festival Naadam
            No final de abril/2025, a Ministra de Assuntos Exteriores da Mongólia (desde 2021, pelo Partido Popular da Mongólia), Batmurikh Battsetseg esteve na Espanha para aprofundar as relações diplomáticas com aquele país, ocasião em que foi firmado acordo entre a Escola Diplomática espanhola e o Ministério de Assuntos Exteriores da Mongólia.

De imediato, a ministra ficou encarregada da classe magistral do mestrado em Relações Diplomáticas daquela Escola.

          Os potenciais desta aproximação bilateral estão na transição verde, infraestruturas, energias renováveis e turismo. A Mongólia também participa da iniciativa espanhola e senegalesa IDRA - International Drought Resilience Alliance. Em 2026, a Mongólia será sede da COP 17 sobre desertificação. A COP é a Conferência das Parte, órgão máximo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na qual se insere a Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação (UNCCD). O evento ocorrerá no mês de agosto/2026.

               A Mongólia é um país da Ásia Oriental. Os mongóis governaram a China até a Dinastia Yuan (século XIV), a Pérsia até a ascensão do Império Timúrida (século XV) e na Índia o Império Mogol sobreviveu até o século XIX.

       A Mongólia, como estado independente, alcançou reconhecimento internacional apenas em 1945. Sua própria revolução democrática ocorreu em 1990, após o colapso dos regimes socialistas na Europa Oriental. Adotou nova constituição em 1992, quando começou sua difícil transição a uma economia de mercado.

            Suas terras aráveis são escassas e são abundantes as estepes. Não possui costa marítima. Sua economia é agropastoril com 50% das limitadas exportações constituídas de animais e derivados. Além da distância do mar, as estradas na Mongólia são precárias em infraestruturas. Considerando os produtos agropecuários processados no país, os principais itens de sua pauta de exportação são: cabelo, carne de cavalo, carne bovina, carne de cordeiro, lã e colza (uma planta da família das couves, de cujas sementes é extraído óleo, utilizado também na produção de biodiesel, enquanto suas folhas, ricas em lipídios e proteínas servem de forragem para o gado. Geneticamente melhoradas no Canadá, em 1970, produzem o que, no Brasil, se conhece popularmente, por óleo de canola), nesta ordem quanto aos rendimentos da transação.                


Mulher com vestimenta típica no Festival Naadam
        

                   A mineração de ouro e prata também sustenta o país, assim como o cobre e o estanho. A Mongólia está entre os grandes produtores mundiais de fluorita (terceiro no ranking mundial de 2019) junto com a China, México e África do Sul. É o quarto lugar no ranking mundial na produção de tungstênio e o décimo de molibdênio. Também é o sétimo maior exportador mundial de carvão.


               Aproximadamente 30% da população do país está constituída de nômades e seminômades, enquanto 57% vive nas cidades, sendo que 1/3 desta população vive na capital. O número de assentamentos agrícolas têm crescido nas zonas rurais, introduzindo os vegetais na dieta mongol, que consiste, basicamente, de carne (cordeiro e camelo no sul e bovinos nas montanhas). Na capital - Ulaanbaatar - existe enorme variedade de comida disponível, sendo a maior parte dela importada.

                Apesar dessas disparidades, a cultura mongol é bastante homogênea, centrada na veneração de Gengis Khan, fundador do Império Mongol, no século XIII.  O grupo étnico mongol corresponde a 85% da população do país e a língua oficial (calco-mongol) é falada por 90% das pessoas. A população é majoritariamente  (53%) budista tibetana, embora tenha sido originalmente xamanista.

Jogos do Festival Naadam
        As relações diplomáticas entre Mongólia e Brasil existem há 38 anos (desde 1987).

            Em março/2025, o acordo educacional, assinado entre os dois países em 2015, em Brasília, foi aprovado pelo Senado brasileiro, com a denominação de Acordo de Cooperação Educacional Brasil-Mongólia, permitindo intercâmbio de conhecimentos e de pessoas.

                Aos poucos a inserção da Mongólia se produz de forma mais contemporânea às relações que ela buscou estabelecer com o entorno (limita com China e Rússia) e, especialmente, com o Ocidente. Em 2024, recebeu a visita de Putin, da Rússia, da qual resultou um importante investimento ferroviário, a despeito da carência local de infraestruturas.  Neste ano de 2025, a China - país que demorou a reconhecer a soberania mongol em seu país independente - através de seu presidente Xi Jinping, enviou mensagem de felicitações ao presidente da Mongólia , Ukhnaagiin Khurelsukh pelo Dia Nacional do país (11/julho). Na mensagem, o líder chinês destacou o fortalecimento de um relacionamento de boa vizinhança, amizade e cooperação a longo prazo, entre os dois povos. Nesta ocasião, ocorre o Festival Naadam, desde 2010 inscrito na lista do patrimônio imaterial da U.N.E.S.C.O.. O evento celebra a cultura local, os séculos de tradição nômade, os 2.228 anos da Mongólia, os 813 anos do Império Mongol, e os 98 anos da Revolução Popular que tornou o país independente.


Referências bibliográficas:

https://centralasiaclimateportal.org

https://g1.globo.com

https://www.diplomaciabusiness

https://www.embassypages.com

msn.com/pt-br

 



maio/junho/2025

SHINISE, as empresas japonesas mais longevas do mundo


Princesa Kako, no Brasil 2025
        Conforme informe da Embaixada do Japão no Brasil, a visita de Sua Altesa Imperial, a Princesa Kako, ao Brasil, incluiu 5 estados - São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Rio de Janeiro - e 8 cidades.

            A convite do governo brasileiro, pelas celebrações oficiais do 130o. aniversário das relações diplomáticas entre as duas nações, a Princesa visitou o país de 5 a 15 de julho/2025.

        Em São Paulo, a Princesa foi agraciada, pelo Governador do estado, com a Ordem do Ipiranga - a mais alta honraria concedida por aquele governo pelo reconhecimento por serviços de relevância prestados ao estado.

          A família imperial do Japão é a monarquia mais antiga do mundo com mais de 2,6 mil anos de história.


Takenada & Co.

                Assim também são as "shinise", as empresas mais longevas do mundo, algumas com mais de 1.000 anos de existência, gestionadas por gerações da mesma família, fiéis ao ofício e a valores fundamentais.

                Verdadeiras depositárias da memória cultural japonesa, priorizando a sustentabilidade, e mantendo os vínculos com suas raízes, sua conexão com a comunidade local reforça seu compromisso com o entorno, criando desenvolvimento empresarial e bem-estar social.

Algumas delas:

1. Kongo Gumi, fundada em 570 é a mais antiga do mundo. A família Kongo foi trazida ao país pelo Príncipe Shotoku, da Coréia ao Japão, para construir o Templo Shitennoji. A família, com sede em Osaka, continua construindo e fazendo a manutenção de templos.

2. Nishiyama Onsen Keiunkan, é um hotel balneário situado em Hayana (próxima ao Monte Fuji), fundado em 705.

3.  Hoshu Ryokan, fundada em 718, e administrada pela família Hoshi, é uma pousada tradicional japonesa (ryokan), de águas termais, em Awazu. Em 1987, ingressou na Sociedade Enoquiana da França, de empresas com mais de 200 anos de história.

4.  Tanaka-Iga, fundada em Kyoto, em 885, é especializada em artigos religiosos e móveis, combinando produtos de luxo com artigos tradicionais.

5.  Toraya, fundada em 1526, em Kyoto, é a confeitaria tradicional mais antiga do mundo, especializada em wagashi, confeito japonês feito de plantas: mochi, anko, frutas, etc. Foi provedora da corte imperial nos séculos XVII e XVIII. Em 1876, mudou-se para Tokio, onde opera com 79 lojas e obtém ingressos de aproximadamente 132,5 milhões de euros anuais.

6.  Takenaka, fundada em Nagoya, em 1610, é uma das construtoras mais antigas do Japão. Construiu, entre outros, os edifícios para Mitsu Bank e Nippon Life Insurance.

7.   Kikkoman, fundada em 1630, em Nada, é a maior produtora de molho de soja.

8.  Grupo Sumitomo, fundado em Tokio, em 1630, começou como vendedor de remédios e livros. Hoje, é composto de 20 empresas que operam na banca, construção naval, mineração, vidro, eletrônica, cimento, madeira e produtos químicos.


            Dados do Tokyo Shoko Research, informam que 2.649 empresas japonesas celebraram seu centenário em 2023, enquanto um estudo da revista The Atlantic indicam que 50.000 empresas têm mais de 100 anos. Uma característica distintiva dessas empresas é sua clara visão e missão, que guia sua prática, focando na sustentabilidade de longo prazo. Têm o ser humano como o centro da sua organização. Os conselhos familiares garantem uma liderança qualificada e respondem positivamente às mudanças sociais e necessidades dos clientes. Mantêm ética de sinceridade e honestidade nas suas práticas comerciais.


Algumas referências:

ho-shi.co.jp

https://globd.toraya-group.co.jp/

https://www.kikkoman.es/acerca-de-kikkoman

https://www.sumitomocorp.com/

https://www.takenaka.co.jp/takenaka

https://tanalaiga.com/

https://www.br.emb-japan.go.jp

https://www.keiunkan.co.jp/en/

kongogumi.co.jp



março/abril/2025


Japão 2025 - 130 anos de Amizade com o Brasil

Japão

        O estado de São Paulo concentra a maior população japonesa no Brasil, distribuída entre as cidades de Bauru, Bastos (fundada por japoneses em 1928), Marília, Campinas, Piracicaba, Prudente, Ribeirão Preto, Franca, Santos, Mogi das Cruzes (onde estabeleceram a Associação de Agricultores de Cocuera, primeiro bairro que recebeu os japoneses nessa cidade. O nome da cidade "Mogi" origina-se em Boigy, M' Boigy, que significa rio das cobras), São Carlos, Araraquara, Sorocaba, Jundiaí e Vale do Paraíba. Dentro da capital paulista, os bairros que mais se destacam pela presença japonesa são Liberdade e Aclimação. A maior população japonesa fora do Japão está no Brasil, com maioria em São Paulo.

            O Vale da Ribeira foi a primeira região a receber imigrantes japoneses, no Brasil, em 1913, chegados no navio Wakasa Maru, mas a cidade que, atualmente, abriga maior número de japoneses está no Paraná: Assaí tem 11,5% de população japonesa. Além dela, destacam-se, por alto percentual de população japonesa, as cidades de Ivoti (RS) e Tomé-Açu(PA).

            Os japoneses representam, aproximadamente, 11,4% dos estrangeiros no Brasil. Entre os brasileiros, 1,9 milhão é descendente de japoneses e a maioria destes vive em São Paulo, onde são chamados "issei" à primeira geração (="sei"). Se esse migrante tem um filho em outro país a criança é um "nissei", a segunda geração é um "sansei". "Hafu" são os japoneses multiétnicos. A palavra deriva do inglês "half" que quer dizer parte, metade.

           Os japoneses vieram ao Brasil trabalhar nas fazendas de café de São Paulo e Paraná e, com isso, aliviar a tensão social do alto índice demográfico daquele país. Entre 1908 e 1963, o total de imigrantes japoneses no Brasil chegou a 240.000. Em 2023, totalizavam 46,9 mil cidadãos japoneses no país, e 2.000.000 descendentes em 2022, correspondendo a 1% da população total do Brasil. Destes, 1 milhão vive em São Paulo. A diáspora japonesa (=nikkei) vive no Brasil, EUA, China, Filipinas, Canadá, Peru e Argentina.

Mogi das Cruzes - SP - Brasil


           Além da mão de obra para as lavouras de café, a imigração japonesa influenciou a moda, os esporte e contribuiu com o chá, o mangá e as cerejeiras, trouxe-nos o bonsai e o beisebol, e é um dos maiores exportadores de cultura do mundo - filmes, cultura pop, literatura e música.

           Etnicamente, a população japonesa tem origem no povo indígena Jômon, originário do leste asiático e migrado para o Japão há 10.000 anos. Além destes indígenas, o povo chinês Han migrou há 2.300 anos.

            Atualmente, a religiosidade dos japoneses está na prática simultânea do xintoísmo (80%) e do budismo.

       Neste ano de 2025, Brasil e Japão celebram 130 anos de relações diplomáticas e comemoram o Ano do Intercâmbio da Amizade.

             O Japão recebe 36,9 milhões de turistas em 2024, 15% a mais que em 2019, sendo um dos destinos mais procurados do mundo: preço competitivos, alta qualidade de alimentação e hospedagem, oferecendo segurança e variedade de experiências culturais - o Museu de Arte Simose, em Ôtake, província de Hiroshima, instalado sobre a água, é considerado o mais bonito do mundo, pela UNESCO.  A isenção de visto de curta duração para brasileiros, estabelecida em 2023, fez crescer em 72% o turismo para o Japão em 2024.

Monumento Brasil/Japão, Bastos - SP - Brasil



              2025 é, para os japoneses, o Ano da Serpente, que oportunizou uma série de comemorações diplomáticas e populares, para comemorar a chegada do ano que augura transformação e desenvolvimento com flexibilidade. Como primeiras medidas, o dia 23 de setembro passará a celebrar o Dia Nacional do Ikebana, no Brasil (Lei 15.098/25), e Robson Braga de Andrade, - ex-presidente da CNI - Confederação Nacional da Indústria, presidente brasileiro do Comitê de Cooperação Econômica Japão/Brasil e contribuinte nas relações econômicas Japão/Mercosul - , foi agraciado, em fevereiro/2025, pelo embaixador Hayashi, com a Ordem do Sol Nascente Estrela de Ouro e Prata, homenagem concedida, desde 1875, em nome de Sua Majestade o Imperador, a indivíduos com meritórios serviços prestados ao Japão. O Imperador (título emprestado da China), na monarquia constitucional japonesa,  ocupa o Trono do Crisântemo, símbolo do Estado e da unidade do povo, mas sem poder político. Ele é também o chefe da religião xintoísta, também chamado "soberano celestial" e "imperador de Deus".

                Como muitos, o Japão está na corrida tecnológica e militarização da independência econômica com novas ferramentas de regulação, promoção e coordenação internacional, para minimizar riscos e maximizar oportunidades.

Japão
            Ajustando-se ao ambiente internacional das últimas três décadas, o Japão desenvolveu uma estratégia de segurança econômica guiada por dois objetivos fundamentais: "autonomia estratégica" para corrigir dependências excessivas para que funções essenciais na sociedade possam ser preservadas, apesar de choques externos ou atos estrangeiros de coerção, e, "indispensabilidade estratégica" ao liderar em tecnologia e indústria-chave globais.

            As políticas de segurança econômica são nas categorias de proteção de tecnologias-chave, infraestrutura crítica e cadeia de suprimentos; promoção de liderança tecnológica para impulsionar competitividade e adquirir influência sobre pontos de estrangulamento; parceria com países de ideias semelhantes para atingir os objetivos defendidos e pro-activos da segurança econômica, conforme "Estratégia de Segurança Nacional de 2022". No caso das relações Japão/Brasil, as semelhanças estão entendidas nos aspectos das belezas naturais, conquistas, e lutas, igualando os dois países.


Referências:

@embaixadajapao

@japanhousesp

Boletins de Economia de Casa Ásia

br.emb-japao.go.jp

https://www.al.sp.gov.br 

onlinelibrary.wiley.com

SHIRO ARMSTRONG, 2025, "Segurança Econômica e Nova Política Industrial, Asian Economic Policy Review.




janeiro/fevereiro 2025 

Cazaquistão e a identidade do clã irmanada com o RS


        Em outubro/2024, o Rio Grande do Sul assinou memorando de entendimento com Almaty, Cazaquistão, para aumentar as relações comerciais com o nosso estado, ampliar investimentos estratégicos, com ênfase no setor agrícola, e exportar alimentos para contribuir à erradicação da fome no mundo. Estabeleceu-se uma parceria entre o Centro de Indústria e Exportação do Cazaquistão (Qazindustry) e a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. Além disso, foi assinado um memorando de irmandade entre o RS e a região de Almaty.  O país é o principal parceiro comercial do Brasil na Ásia Central.

       Importante corredor de exportação, por onde cruza 80% do transporte terrestre entre Ásia e Europa, o Cazaquistão cresceu 5,3%, em 2023. O embaixador do Cazaquistão, em visita ao RS, vê como espaços de crescimento os setores de energia sustentável, indústria alimentícia e química. É um mercado promissor para o Brasil e o Rio Grande do Sul. Iniciativas em agricultura e produção de soja com tecnologia brasileira já são desenvolvidos lá. A empresa catarinense WEG atua também lá com projetos de energias renováveis e hidrogênio verde, e a gaúcha Tramontina vende no Cazaquistão utensílios domésticos e louças da empresa. Em 2023, o comércio com o RS foi de US$9,6 milhões, representando uma elevação de 137%. Nos oito primeiros meses de 2024, as transações entre o Cazaquistão e o Rio Grande do Sul aumentou 265% em relação ao mesmo período no ano anterior: o RS vende máquinas e instrumentos mecânicos e adquire do Cazaquistão máquinas e equipamentos. Foram assinados memorandos de cooperação no cultivo da soja e processamento de carne de frango.

        As semelhanças com o RS permitem inferir avanços em tecnologia e inovação. Ambos - Cazaquistão e RS - têm localizações estratégicas no Mercosul e Ásia.

            Em 2021, em plena pandemia do Covid, o embaixador do Cazaquistão esteve em visita ao governo do nosso estado para externar seu interesse de cooperação. No ano seguinte, durante o 1o. Fórum Econômico Cazaquistão-Brasil, realizado no RS, o embaixador expressou seu interesse em cooperação com a indústria gaúcha nos setores agroindustrial, manufatura e mineração, e também nos campos da cultura , educação  e serviços públicos.

        O RS é o 4o. estado do Brasil no PIB e o 5o. em população e IDH no país. O Cazaquistão tornou-se, em 2013, um dos 50 países mais competitivos segundo o relatório de Competitividade 2014-2015, do Fórum Econômico Mundial, tendo como Índice de Competitividade Global 4,4 (o máximo é 7).

        A República (constitucional presidencialista) do Cazaquistão é um país transcontinental, localizado na Ásia Central. É o maior país sem costa marítima do mundo, com 2.724.900 km2 (maior que a Europa Ocidental, e equivalente a 1/3 do território brasileiro). Declarou sua independência da União Soviética em 1991, sendo o último a fazê-lo. O processo de independência deveu-se à vontade política de seu líder Nursultan Nazarbayev, defensor das reformas da glasnost e perestroika de Gorbatchev, contra a linha dura do Partido Comunista da URSS, do qual o PC do Cazaquistão deixou de fazer parte, adotando o nome de Partido Socialista. Para chegar ao desenvolvimento, de sua independência até 2006, atraiu 42 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros, tendo como principais investidores os Estados Unidos, Países Baixos e Grã-Bretanha, aplicados fundamentalmente na extração de petróleo e gás, e no setor bancário. É povoado por 100 etnias, e permite a liberdade de religião. O islamismo é a religião de 75% de sua população desde o século XV, impondo-se sobre o Tengrismo (a fé islâmica de rito sunita é majoritária, professada pela escola Hanafi, que enfatiza a analogia, o consenso público e a opinião privada, na Administração e interpretação dos princípios do Islamismo), e o cristianismo ortodoxo russo, é de 21%. Entretanto, o governo é secular. É a maior e mais forte economia da Ásia Central, alavancada na produção de petróleo do qual detém a 11a maior reserva mundial, bem como a de gás natural.
            A notável mistura de etnias da Ásia Central, provavelmente, não encontra paralelo em outras regiões do planeta. As autoridades cazaques têm verdadeiro orgulho, que não deixam de manifestar, da capacidade de entendimento e aceitação da diversidade de seu país, e tomam isso como um dado relevante de suas diretrizes e princípios de política exterior. Há 42 grupos linguísticos entre as 100 etnias que convivem pacificamente, no Cazaquistão. Por iniciativa cazaque, realizou-se a 1a. Conferência Mundial sobre Tolerância Religiosa.

            Os "low-aggregate identities" (tribos e clãs) são determinantes no jogo político da Ásia Central. A estrutura social com fulcro nos laços de sangue tem origem árabe (século VII), sendo elemento fundamental da sociedade árabe primordial; é autônoma e soberana. As fidelidades do Estado moderno, weberiano, são voltadas para fins impessoais e funcionais em contraste com o clã, patrimonialista. No Cazaquistão, após a queda da URSS, a política de identidade de clã que antecedia o período soviético ressurgiu com força. O presidente N. Nazarbayev privilegia seu clã (antigo) situado no sul e sudeste do país, próximo a Almaty. O clã cazaque médio domina os cargos técnicos, composto de russófonos, educados em cidades do norte e centro do país, enquanto o clã novo governa a região do Mar de Aral, do Cáspio e do rio Ural. 

            Não existem problemas relacionados aos direitos humanos no país, mas há restrições à liberdade de imprensa.


Referências bibliográficas:

ANDERSON, Benedict, 1983, "Imagined Communities: reflections on the origin and spread of nationalism (http://www.english.emory.edu/Bahri/Anderson.html)

PIRES Ribeiro da Silva, Ricardo Luís , 2011, "A nova rota da seda: caminhos para a presença brasileira na Ásia Central, Brasília, Fundação Alexandre Gusmão.

ROY, Olivier, 2000, "La nouvelle Asie Centrale: ou la fabricacion des nations", New York, University Press.

embassynews.info

www.abdi.com.br

www.estado.rs.gov.br

www.fiergs.org.br

www.government.kz

www.ielrs.org.br

www2.camara.leg.br







novembro/dezembro 2024



China, onde o povo é o fundamento do país.

"El pensamiento de que 'el pueblo es el fundamento del país' constituye la base de la cultura política tradicional de China", Sun Xiaochun, Deep China, 2024.

        A civilização é assunto da humanidade, assim como a governança estatal; esta, por sua vez, depende de como as pessoas compreendem a vida política e social. Desde a antiguidade, os pensadores chineses tiveram o enfoque na sociedade humana e prestaram atenção no homem como sujeito da vida social. Dizia Mêncio que "Nunca existiu caso em que tomando a felicidade e preocupações de todos como as suas próprias alguém não tenha sido capaz de submeter o mundo." (Liang Huiwang II).
     Não é sem motivo, portanto, que o planejamento assumiu um papel importante na política e governança interna chinesa. Para 2025, foram destacados dez setores prioritários, dentro do chamado "Plano Made in China 2025":     
1) tecnologia da informação avançada;
2) automação e robótica;
3) aeroespacial;
4) navios de alta tecnologia;
5) transporte ferroviário moderno;
6) veículos movidos à energia renovável;
7) equipamentos para o setor energético;
8) equipamentos para o setor agropecuário;
9) novos materiais;
10) biofarmacêuticos e produtos médicos avançados.  
        
        O humanismo da governança estatal chinesa impõem-se à Constituição da China ao ponto de dar características de legislação internacional às relações entre as cidadanias regionais. É o caso das montanhas do sul da China, entre Yunnan e Sichuan (quase fronteira com o Tibete), onde a minoria Mosuo, um povoado de 40.000 pessoas, viver sob o matriarcado, perpetuando a linhagem feminina. Aos homens cabe serem escolhidos por uma mulher, em contraste com a sociedade estatal dos Han, a maioria étnica chinesa, que é patriarcal. Entretanto, a China é una como país, e assim se coloca frente ao mundo exterior, como demonstrou a política do presidente chinês Xi Jinping com a iniciativa "Cinturão e Rota", conhecida como a Nova Rota da Seda, que cumpriu dez anos em 2023. A iniciativa pretende aproximar a China do mundo exterior com investimentos em projetos de infraestrutura, injetando dinheiro em mais de 150 países. O "cinturão" é referência aos caminhos terrestres que conectam a China à Europa, via Ásia Central, além do sul da Ásia e do sudeste asiático. "Rota" designa a rede marítima que liga a China aos principais portos do mundo, através da Ásia, África e Europa. Expansão e diversificação. Por exemplo, a China é o maior importador mundial de soja e era dependente, nesse abastecimento, dos EUA. Atualmente, o Brasil é seu maior fornecedor na América do Sul. Com estes investimentos, a empréstimo, a China já era, em 2023, o maior credor internacional do mundo, fortalecendo o yuan - a moeda chinesa.

        A China já atingiu seu principal objetivo: ampliar sua influência, projetando seu 'soft power', como líder do Sul Global, angariando a simpatia de países como o México, Argentina, Coréia do Sul, Quênia e Nigéria, e o isolamento diplomático de Taiwan. Pequim prega o 'pequeno e belo', ou seja, a Nova Rota da Seda ganha relevância com projetos de baixo investimento e alta lucratividade na Libéria, Samoa, Fiji, Papua-Nova Guiné e Ruanda. 

 
       Embora sejam parceiros comerciais históricos, o século XXI coloca o continente africano na agenda da diplomacia chinesa com ímpetos qualitativos exponenciais.  Seu ativo de partida: ausência de colonialismo; conecta-se de forma natural, como país em desenvolvimento, na luta contra a pobreza, contra a fome, pelo desenvolvimento agrícola e saúde, setores nos quais a China tem valiosas lições a compartilhar. Os pequenos agricultores são um importante pilar na África. Em comércio e investimentos, os progressos foram crescentes. A China foi o maior sócio comercial da África nos últimos quinze anos, segundo o Conselho Empresarial China-África. A China trouxe mais de 1.000 empresas que aumentaram o lucro fiscal e as divisas africanas provenientes de exportações, além de ajudar, através do G20, a que alcance acordos de suspensão da dívida externa, que, segundo o FMI, chegam a 66% (acordos comerciais e dívidas multilaterais) no continente.  Em setembro deste ano, durante o FOCAC 2024 (Forum on China-Africa Cooperation, fundado em 2000), Xi Jinping estabeleceu dez ações da Agenda de Cooperação China-África: 
1) intercâmbio de experiências de governança, Rede China-África de Conhecimentos para o Desenvolvimento e 25 centros de estudos sobre China e África;
2) outorgar imposto zero de importação a 33 países africanos, promover o comércio eletrônico na África e lançar o programa de aumento de qualidade China-África;
3) fomentar clusters de cooperação industrial com a África, avançar na Zona Piloto para cooperação econômico-comercial a Fundo China-África, e lançar um programa de empoderamento das PyMes africanas;
4) ajudar na construção da Zona de Livre Comércio Continental Africana e aprofundar a cooperação logística e financeira para o desenvolvimento trans-regional na África;
5) China vai repor o Fundo de Associação China - Grupo do Banco Mundial para o Desenvolvimento da África;
6) investir na produção farmacêutica da África e aliança de hospitais e centros médicos conjuntos;
7) assistência alimentar e aliança de inovação científica e tecnológica em agricultura China-África;
8) lançar com a África o programam da Rota da Seda Cultural e iniciativa de cooperação de inovação em rádio, televisão e áudio e programas visuais e o "Ano de Intercâmbios de Povo a Povo China-África 2026";
9) 30 projetos de energias limpas na África e criar um foro sobre o uso pacífico de tecnologia nuclear China-África;
10) Associação para a Seguridade (militar) Comum.


Pequim
        Internamente, medidas aprovadas em outubro/2024 procuram reanimar a economia chinesa, expandindo a demanda interna e estabilizando o setor imobiliário; apoiar as empresas , alavancar o mercado de capitais e harmonizar o ajuste anticíclico das políticas macroeconômicas, conforme explica o diretor da CNRD - Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China, Zheng Shajie.  A expectativa de crescimento econômico para este ano é de 5%. Há poucas semanas as autoridades chinesas anunciaram a redução dos juros dos empréstimos hipotecários já existentes, permitindo uma poupança de 21.000 milhões de dólares e se reduziu a 15% a quota mínima da entrada para quem deseje comprar um segundo imóvel, para reativar o setor em crise há três anos. Também serão oferecidos 114.0000 milhões de dólares a financiamento de empresas de valores, fundos ou seguradoras, como em crédito, para que as empresas que cotizam em bolsa recomprem suas ações e assim elevem seu valor no mercado, o que provocou subidas nos mercados bursáteis.

        Este século presenciou a entrada da China no GATT e na OMC. Se Mao conseguiu "colocar a China em pé", Deng a desenvolveu. Xi Jinping, desde 2012, se propôs a colocar a China "no caminho dos seus sonhos", com o "socialismo com características chinesas na nova era", a cujo crescimento teremos oportunidade de assistir.


Fontes e Referências:

BBC Monitoring
BBC News
CASA ÁSIA, 9/10/24, Boletín de Economía.
CNBC, 23/9/24, China Economy.
FINANCIAL TIMES, 24/9/24, Expansión.
FOCAC 2024, 7/9/2024, "Resumo de atividades diplomáticas chinesas: África", Equipe do Observatório de Política Chinesa.
LA VANGUARDIA, 8/10/24, China conjuntura.
MIT, ago/2016, Revista de Conjuntura Econômica, p.60-61.
O GLOBO, 5/8/2017, por Vivian Oswald (sobre os Mosuo).
RÍOS, Xúlio, ago/2024, "China cambia la faz de Africa", El Ciudadano, Chile.
THE JAPAN TIMES, 12/09/24, Business/Economy.
WAIHONG, Choo, 2017, "O reino das mulheres: vida, amor e morte nas montanhas perdidas da China".
WANG, Tessa, 18/10/2023, "A nova rota da seda que a China quer construir vale o investimento trilionário? ", BBC Brasil.








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