Lá na África ...
Julho/Agosto/2024
Namíbia, "área onde nada existe"
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| Sensores espaciais chinesas na Namíbia, 2024 |
Girley Jazarra (1984) é atriz, roteirista e produtora namibiana. Atua desde 2005. Já participou, como roteirista, da primeira série namibiana de televisão, em 2008. Em 2019, co-produziu o primeiro filme namibiano na Netflix. Em 2020, ganhou o prêmio AMAA de melhor atriz.
Todo este pioneirismo deve-se, em parte, ao fato da Namíbia ser um país de independência recente. A Namíbia só conquistou a independência da África do Sul em 21 de março de 1990, resultado da negociação África do Sul/Cuba/Angola, depois de 26 anos de lutas (1966-1989), e que teve como beligerantes a África do Sul, Portugal, Angola, Cuba e grupos internos à África, apoiados pela U.R.S.S., China, Alemanha Oriental, Egito, Nigéria, Líbia e México.
O Brasil, desde o governo do presidente Geisel, apoiou esta independência junto à O.N.U.. A Namíbia tornou-se República com a independência. Presidencialista, adotou a democracia parlamentarista multipartidária com o lema "União, Liberdade e Justiça".
Apesar dos seus 34 anos como país independente, a União Europeia considera que ela seja uma democracia estável apenas desde 2009, motivo pelo qual tornou-se parceira na transição verde e digital, dentro do "Team Europe Initiative on Inclusive Green Growth" alocando 37 milhões de euros ao país no período 2021-2024.
O governo brasileiro, por sua vez, tem tido com o país uma relação de apoio e cooperação crescentes. Em setembro/2008, a Embaixada namibiana visitou a Embrapa-DF, como observadora do projeto/programa de agricultura familiar cooperativa. Embora a agricultura seja importante na Namíbia, ela ainda mantém-se como cultivo de subsistência. O governo brasileiro doou 120 mil dólares ao Programa Mundial de Alimentos (WFP) das Nações Unidas na Namíbia para o acesso alimentar em cinco das treze regiões do país: Otjozondjupa, Omaheke, Hardop, Kunene e Ohangwena. Quando em julho deste ano de 2024, foi anunciada a descoberta de petróleo da Galp Energia, na Namíbia, a Petrobrás e mais onze petroleiras apresentaram seu interesse na compra, com participação de 40%.
Na avaliação da União Europeia (U.E.), a Namíbia tem tido um histórico de crescimento econômico consistente, inflação moderada, dívida pública limitada e receita de exportação significativa, embora o Dólar Namibiano esteja indexado ao Rand Sul-Africano. Tem havido um aumento relevante da construção civil nos últimos anos, e na pecuária, bovinos e avestruzes são comercializados na África do Sul; ovinos certificados, com a UE. O turismo atrai ecoturistas e adeptos da caça esportiva.
A base econômica do país, entretanto, é a extração e processamento de minerais, responsável por 20% do PIB. O diamante é a maior fonte de receita, mas o urânio, o cobre, chumbo, zinco e magnésio são relevantes à indústria de minas, uma das mais antigas do continente. A Namíbia é o quarto maior exportador de minerais não combustíveis da África e o quinto maior produtor de urânio do mundo. O urânio (U) é elemento metal radioativo usado na indústria bélica para bombas atômicas e bombas de hidrogênio, como combustível em usinas nucleares para geração de energia elétrica. A Agência Internacional de Energia Atômica estima que as reservas mundiais de urânio concentram-se na Austrália (31%), Cazaquistão (12%), Canadá (9%) e Rússia (9%). Os maiores produtores mundiais são o Cazaquistão (28%), Canadá (20%), Austrália (16%), Namíbia (9%), Rússia (7%), Níger (6%) e Uzbequistão (5%). Andhara Pradesh, na Índia, pode tornar-se o maior do mundo com a mina Tumalapolli, revelada em 2011, pelo Departamento de Energia Atômica da Índia.
Entretanto, a Namíbia apresentava, em 2003, o pior Coeficiente de Gini (mede a distribuição de renda) do mundo (0,6). A maioria negra da população é pobre. A população urbana é de 37,38% e a subnutrição atinge quase 20% da população. A rede sanitária é acessível a 35% dos namibianos, que têm esperança de vida ao nascer de, aproximadamente, 51 anos de idade. O I.D.H. era de 0,615, em 2021 (139o. no ranking). Na época de independência (1990) era de 0,579 (89o. lugar). Em 2020, o I.D.H. esteve em 0,646, o 12o. lugar entre os 53 países africanos (exceto Somália), superada apenas pelo Marrocos e Cabo Verde, no grupo do Desenvolvimento Humano médio. Mesmo assim, a taxa de alfabetização, acima dos 15 anos de idade, é de 91,5%, um dos maiores índices da África.
A Namíbia é um dos países menos povoados do mundo, com 2.484.780 habitantes, em 2017, onde a maioria é negra; os brancos representam 7%, entre alemães, africaners (colonos calvinistas bôerers), britânicos e portugueses. O inglês é a língua oficial desde 1991 (até 1990 eram também oficiais o alemão e o africaner), mas falam também outros dialetos. O cristianismo representa 90% (maioria protestante de mais de 50%, católicos 17%, 13% outros e o restante sem filiação), crenças tradicionais 6%, sem religião 2% e outras religiões o restante.
Atualmente, a Namíbia é membro da O.N.U. (Organização das Nações Unidas), da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), da UA (União Africana) e da Commonwealth. Mas, a região já foi protetorado do Império Alemão (1884) e colônia alemã até o final da Primeira Guerra Mundial. Em 1920, sua administração esteve sob a África do Sul, portanto, sob o "apartheid", em 1948. A partir de 1973, a SWAPO - Organização do Povo do Sudoeste Africano - tornou-se a representante oficial da Namíbia, que passou à administração interina da África do Sul, em 1985. A Namíbia independente tem, desde 2024, Nangolo Mbumba, da SWAPO, como presidente.
No século XIV, observou-se o que se convencionou denominar "Expansão Banta", imigração de "Bantos" (= pessoas), grupos antropoétnico que se identifica pela linguagem banto. Eles teriam sido os precursores da metalurgia africana. Predominam na Namíbia.
Em tempos mais recentes, pós independência, percebe-se uma minoria chinesa no país (Windhoek, Oshakati). Resultado dos acordos de cooperação sul-sul, a China introduz tecnologia de sensoriamento remoto e comunicações em missões espaciais chinesas, entre outras parcerias.
Com a independência, a Namíbia recebe, em 1994, o controle de Walvis Bay (Baía das Baleias). O Brasil, então, estabelece, no mesmo ano, o Acordo de Cooperação naval Brasil-Namíbia, através do qual a Marinha Brasileira coopera para a formação da ala naval das Forças de Defesa Namibianas. Brasil e Namíbia participaram juntos do ZOPACAS (Resolução 41/11, O.N.U., 1986). Em 2004, é estabelecida a Marinha da Namíbia, correspondente a 90% do efetivo das forças namibianas. O Corpo de Fuzileiros Navais da Namíbia, se constitui, em 2016, enquanto o Brasil trás militares namibianos para formação em nosso país. Em 2022, o primeiro navio namibiano apresenta-se para participar das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil (Operação INITAS LXII), no Rio de Janeiro. A exposição de Cartoons Luso-Brasileira, com 60 cartoons, é realizada em Walvis Bay, no Civic Center, numa colaboração Namíbia-Brasil-Portugal.
Em 2002, a Namíbia tinha oferecido Walvis Bay como rota comercial das mercadorias da África do Sul, através do Walvis Bay Corridor Group. O hidrogênio verde é uma das mercadorias negociadas lá. O hidrogênio verde pode ser obtido por eletrólise na decomposição das moléculas de água (H2)) em oxigênio (O2) e hidrogênio (H2). No Brasil, a produtora é a Unigel, empresa estabelecida em Camaçari, Bahia. A China é o maior produtor mundial de energia hidrogênio verde. Na Namíbia, o projeto HygO, do governo alemão, produz sobre micro-redes que armazenam eletricidade solar e o eólica, em forma de hidrogênio. Em parceria com a NUST - Universidade de Ciência e Tecnologia da Namíbia, o projeto será implementado em 2024. Em 2024, também, Bruges (Bélgica) vai exportar hidrogênio - produzido pela Cie Marine e Belge S.A. - e amoníaco, do porto de Walvis Bay, junto com a empresa estatal logística namibiana. A Mediterranean Shipping Co. S.A. já se instalou no local.
Algumas fontes, como referência:
anrs.pt
cccm.gov.pt
deutschland.de
diplomaciabusiness.com
economist.com.na/category/columns/
hydrogen-central.com
infomoney.com.br
instituto-camoes.pt
international-partnerships.ec.europa.eu
marinha.mil.br
namibiahouse.com
nsa.org.na
naval.com.br
portaldeangola.com



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